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by The Red Mercantile Communes of Alentejo and Algarve. . 61 reads.

Os Quiroganaicas

CAPACIDADES INTRÍNSECAS
Povoando as extensas planícies geladas do sul, os Quirogonaicas demonstraram desde a sua fixação nesta região como sendo um grupo resiliente às adversidades meteorológicas. Uma prova desta fácil adaptação a qualquer clima é a ideia sustentada por muitos estudiosos que, após terem chegado às planícies de (nome) (provenientes, como todos os outros povos, da junção dos três lagos), sendo na altura ainda migrantes, um grupo deste povo terá seguido para o ardente deserto do (nome do deserto) e outro (que viriam a dar origem aos quirogonaicas) terá continuado para as taigas frias. Muitos anatomistas tentam justificar esta habilidade com a existência de fluidos no sangue deste povo que os levam a mais facilmente manter a homeostasia corporal, no entanto ainda é desconhecida a verdadeira razão para capacidade que os diferencia de todos os outros humanos.

A ARTE DA GUERRA PARA OS QUIROGANAICAS
Apesar de resistentes às diferenças de ambiente, os quiroganaicas nunca foram conhecidos pelos seus guerreiros e combatentes. De facto, muitos dos seus contemporâneos descreveram-nos como "fracos" e "medricas", sendo a sua habilidade na arte da guerra ridicularizada nos escritos da época.

E para um povo tão incapaz de se defender, as perigosas taigas repletas de seres selvagens e hostis tribos eram o pior local para se fixarem. Assim, os primeiros anos de vida dos quiroganaicas nas zonas polares foram palco de ataques e saques constantes às suas aldeias, intensas e sangrentas batalhas com os vizinhos e caçadas falhadas. E durante todos estes desastres, a vida de centenas de homens e jovens era ceifada e a continuação do povo posta em causa. Algo tinha de mudar.

A HISTÓRIA DE JAI TOZA
Enquanto os homens, dotados geralmente de maior força, combatiam, as mulheres ficavam nas suas casas cuidando da seguinte geração. Com a sucessiva e continuada dizimação da população masculina em conflitos territoriais, o mulherio ganhava números percentuais chegando a um ponto tal de ultrapassar a quantidade de homens 5 para 1. E a partir daí tudo mudou.

Jai Toza era das poucas mulheres que voluntariamente se oferecera para, juntamente com os seus camaradas do sexo oposto, enfrentar a carnificina da guerra. Uma boa estratega, comandava as cargas contra os inimigos gritando ordens aos seus companheiros em pleno campo de batalha com resultados satisfatórios para os padrões quiroganaicas. Galardoada com banquetes e festas pelos seus líderes tribais, Jai era a esperança do seu povo. Mas num desses jantares, o destino surpreendeu-a.

Dormia na sua luxuosa habitação quando foi despertada do seu sono profundo por um som de passos intenso. Estranhou, e levando uma tocha que alumiava os seus aposentos saiu à rua para ver o que acontecia. Imediatamente ao abrir a porta foi atingida com um objecto pesada que ela viria mais tarde a saber tratar-se de um martelo. Logo perdeu os sentidos.

Acordou enclausurada numa jaula de madeira, sustida por pesados pedregulhos e amarrada com cordas nos pés e mãos. Uma linha de tochas guiou a sua visão para um grupo de homens que ela identificou como sendo soldados no seu exército: "Tendes de me ajudar! Vede o que me fizeram aqueles animais!" - exclamou em alívio vendo os seus companheiros. "Fomos nós Toza, e agora sacrificar-te-emos aos céus para que nos tragam a bonança! Apenas agradando aos Deuses poderemos esperar a continuação do nosso povo!". Jai espantou-se com o raciocínio dos seus outrora amigos e implorou-lhes que encontrassem outra vítima menos prestável para a sociedade, pedido que lhe foi recusado "Assim não seria um verdadeiro sacrifício". Não via como podia sair daquela situação. Era incapaz de se movimentar senão arrastando-se lentamente e nem da caixa que a guardava conseguia sair. Restava-lhe apenas aceitar o seu destino.

Os homens retiraram as pedras, e levaram a prisioneira para um altar cerimonioso improvisado na densa floresta. Jai olhava para os seus homens procurando neles algum sinal de empatia, mas estes olhavam em frente focando-se no altar. Finalmente deitaram-na no frio granito que fazia a mesa. E aqui viu aqueles cultistas, cantando em uníssono, retirar o punhal com que terminariam a sua vida de uma arca e passá-lo de mão em mão até chegar àquele designado para a assassinar. O rapaz, de faca em punho, aproximou-se e sussurrou ao ouvido da sua condenada "Será rápido". As palavras gelaram-lhe o corpo. Apenas foi capaz de fechar os seus olhos enquanto o jovem erguia a arma. Era agora, o fim de tudo. Todos os sonhos que tivera, todas as memórias porque passara, todos os tempos que vivera, tudo lhe passou pela mente naquele momento. A derradeira hora chegara e Jai tentava sentir-se preparada. E quando o coro parou gritou em agonia. Mas nada a perfurara.

Abrindo os olhos deparara-se com um jovem na mesma posição com que estava quando ela os fechara. Parado, bloqueado, com um olhar aterrorizado empunhando aquele biface. Não a conseguira matar. Um outro, mais velho, acorreu ao lugar e roubou o punhal ao rapaz elevando-o da mesma forma, mas também este segundo fora imobilizado. Não havia maneira. E vieram dois e três e quatro e nenhum foi capaz de tirar ao mundo aquela mulher. Finalmente deixaram-na ir não tendo outra hipótese senão esta. Caminhando para a vila sozinha, Jai tinha na mente uma questão "Mas porquê? O que fez estes homens parar?". E de repente atingiu-lhe. Lembrara-se de ter ouvido, quando viajava pelas vizinhanças, cantigas de escárnio sobre o seu povo. Nelas eram sempre retratados como gente "que fugia a sete pés à mera visão do inimigo". Durante muito tempo encarou essas interpretações como meras exagerações de casos singulares, mas via agora que era provável que assim fosse. "Mas se assim é, porque não sou eu afectada?" Sabia de certeza que era filha de pais quiroganaicas e se o amedrontamento lhe corresse verdadeiramente no sangue, certamente que não seria tão boa guerreira. E teve outra epifania. O retrato pintado pelos inimigos do seu povo era sempre dos homens que guerreavam e nunca das mulheres. Poderia esta condição afectar apenas os homens? Se sim, era necessária a inversão dos papéis sociais que ambos ocupavam urgente ou o povo arriscava-se à extinção.

Assim, os dias seguintes de Jai Toza foram passados a debater na praça pública sobre o valor da mulher na sociedade, o seu verdadeiro papel, e o porquê do homem ser inferior. As senhoras, agradando-lhes o discurso de emancipação, rapidamente aclamaram entre si Jai como a sua líder. Os homens (encabeçados pelos anciões que viam agora na sua outrora genial general uma ameaça) desagradados com a injustiça a que assistiam tentaram-se revoltar mas a sua inferioridade numérica levou a uma derrota segura. E a partir desse momento na história do povo, as mulheres passaram tanto a ocupar as posições de liderança como os lugares dos seus maridos no exército sendo esta talvez a primeira sociedade matriarcal da história.

SOCIEDADE MATRIARCAL
A eleição popular de Jai Toza uma mudança importante no rumo do povo. O papel dos homens ficou relegado à mera procriação e continuação da espécie. De resto, eram tratados como autênticos animais por receio da destruição da "sociedade perfeita" como lhe chamavam as agora cidadãs. Várias outras mudanças foram introduzidas como é o exemplo de:

Para surpresa de muitos dos seus opositores, este modelo de sociedade mostrou-se funcional aumentando o sucesso militar do povo e, juntamente, a sua população. Antes de Jai Toza, os quiroganaicas eram uma pequena tribo localizada perto da foz do rio (nome do rio). Agora ocupavam a totalidade do istmo que ligava os dois continentes

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